
Bastam alguns minutos nos arredores do estádio La Fortaleza, ao sul de Buenos Aires, para perceber o ambiente que espera o Grêmio no jogo decisivo de quarta-feira, na final da Libertadores. Dois sentimentos saltam aos olhos. O primeiro é que o Lanús está abraçado por sua “gente”, como se fala na Argentina. O segundo é que está incomodado com o que aconteceu no primeiro jogo, em Porto Alegre. Mordido. E, ao mesmo tempo, satisfeito.
Os torcedores do clube argentino, claro, querem o título, querem ser campeões, querem a primeira Copa. Mas também estão orgulhosos com a campanha até aqui. Chegar a uma final de Libertadores para o Lanús é um feito grandioso. Reconhecido do ambulante que vende camisetas do time em frente ao complexo ao dirigente histórico Nelson Díaz Pérez, que dá nome ao Estádio Cidade de Lanús.
O ressentimento é fruto dos problemas enfrentados pela torcida que foi acompanhar o time em Porto Alegre. Muitos ônibus e carros foram depredados no entorno da Arena, relatam os argentinos. Ninguém esperava esse tratamento. Principalmente pelo caráter do Lanús: um clube menor, com preocupação social, que oferece escolas e diversas modalidades esportivas para os morados da pequena cidade de 50 quilômetros quadrados.
Nos arredores do estádio, muitos torcedores ouvidos pela reportagem relataram praticamente os mesmos fatos. Gabriel Fernández, Juan Manuel, Mauro Di Marzio, Pablo Reali… Todos estiveram em Porto Alegre. E todos reclamaram. A insatisfação da torcida foi relatada à Conmebol pelo presidente do clube, Nicolás Russo, mas até agora não houve resposta ou posicionamento da entidade sobre os acontecimentos.
– Foi ruim o que ocorreu lá em Porto Alegre. Nos trataram mal. Sabemos que não são todos, mas foi mal. Jogaram pedras. Saímos da rodovia e caímos no meio da torcida do Grêmio. Depois veio a polícia e tirou a torcida – relatou Di Marzio.
– Havia famílias, crianças. Este é um clube de bairro, então é assim. Eu vi pessoas chorando querendo garantia de segurança da polícia – exaltou-se Juan Manuel.
Dirigente histórico do Lanús por conta da reformulação do estádio, Nelson Díaz Pérez foi categórico ao ser perguntado qual dos títulos era o mais importante do clube. “Este”, respondeu, se referindo à Libertadores. Mas também lembrou que o Lanús foi o primeiro time pequeno a ser campeão na Argentina, em 2007. A importância da Libertadores é óbvia.
– Nunca somos hostis com ninguém, não tem que ter uma rivalidade violenta entre duas torcidas que venham a ver um jogo tão bonito como é o futebol – disse.
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Orgulho da cidade
Por outro lado, há sorrisos por todos os lados em Lanús. A cidade inteira desfruta do grande momento vivido pelo clube. O Lanús não está na lista dos maiores clubes da Argentina, mas vem desbancando os gigantes nos últimos anos.
Até pela dimensão do clube, os torcedores têm uma relação mais próxima com os jogadores. Após o treino de sábado, por exemplo, havia cerca de 20 esperando os atletas deixarem o estádio. No avião a caminho de Buenos Aires, um torcedor contou à reportagem que esteve no saguão do hotel conversando com os jogadores após o jogo na Arena. Disse que Aguirre chegou a mostrar os machucados da entrada de Geromel no segundo tempo.
O orgulho é a marca a campanha, mesmo que alguns citem partidas ruins da equipe, especialmente contra River Plate e San Lorenzo, nos jogos de ida das semis e quartas de final, respectivamente. O desempenho na final é considerado um dos melhores dos últimos jogos, apesar da derrota. Em Lanús Leste, onde fica o estádio, se vê bandeiras estendidas e expostas em casas. A cidade respira a final da Libertadores.
– Não me interessa. Aqui se diz, o maior clube de bairro do mundo. É uma família – garante o ambulante Juan Lara, ao lado da entrada do complexo esportivo, ao ser perguntado se estava confiante na virada do Lanús.
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Em uma praça da região da pequena cidade, as artesãs também discorriam sobre o jogo. Vestindo, claro, camisa do Lanús. Todo mundo com quem se conversa vive a expectativa para a decisão. Os gremistas precisam se preparar para uma dura disputa na próxima quarta-feira.
Bem diferente da situação de Buenos Aires. A capital quase não vive a final, como deixam claro os grandes veículos de comunicação. Ainda mais na véspera de um clássico de Avellaneda no meio do caminho, com Racing e Independiente se enfrentando na casa do primeiro – curiosamente, cerca de seis minutos do estádio do Lanús.
Os gremistas poderão aproveitar pouco a cidade porque há uma logística especial montada para o deslocamento da torcida de Buenos Aires para Lanús. Terão de se reunir até às 15h30 no Puerto Madero, em área determinada pelas autoridades, e de lá sair em comboio para o estádio. De preferência, em veículos coletivos, como vans e ônibus.
Os jogadores já estão esperando, também, pressão em campo. O volante Cristian, experiente e com passagem pela Turquia, onde o fanatismo é marcante, citou que não haverá “tapete vermelho” para o Grêmio. A situação de bastidores, por outro lado, pouco repercute no ambiente do jogo no que diz respeito aos torcedores. Estes estão preocupados, mesmo, é em aproveitar o momento. Não é sempre que o clube do seu bairro está na final da Libertadores.