(Foto: Eduardo Deconto)

Lado a lado, os jogadores de Grêmio e Monagas pisam o gramado e se perfilam para o protocolo habitual da Libertadores antes de a bola rolar para a sofrida vitória gremista por 2 a 1, nesta terça-feira, no Monumental de Maturín. Nas arquibancadas, a torcida local dá show à parte, com uma recepção calorosa – inversamente proporcional à presença escassa de público -, aos cânticos, e faz até chover dinheiro no céu do maior estádio da Venezuela.

Não é força de expressão. Apenas mais uma faceta da realidade de um país combalido, que sofre diariamente com uma grave crise política e econômica. Com a desvalorização de seu dinheiro por uma inflação que deve chegar a 13.000% ao fim do ano, sai mais em conta aos maturinenses arremessar as cédulas de 100 bolívares ao alto do que comprar papel para picar. Foi a primeira de uma série de cenas inusitadas que marcaram os 90 minutos de partida.

Torcida “raiz” e comida liberada

Torcedores do Monagas na caçamba de caminhão  (Foto: Eduardo Deconto)

Em meio à crise que os faz formar filas para ter acesso a remédios, dinheiro e produtos básicos, os venezuelanos se viram como podem para poder viver um respiro de diversão com o futebol. Com estrutura limitada e insuficiente de transporte público, muitos maturinenses, como são chamados os locais, circulam pela cidade sem qualquer proteção na caçamba de camionetes e pequenos caminhões. A opção foi adotada até pela banda da torcida organizada, que chegou ao estádio com instrumentos em mãos em um dos veículos.

O Monagas, aliás, se sensibiliza à crise. O clube liberou aos torcedores a entrada no estádio com comida e bebidas. Isso, desde que levassem seus alimentos em vasilhas e garrafas plásticas. Não à toa, muitas delas voaram na comemoração do gol contra de Kannemann

Cão ficou no “quase”

Cusco "barrado" no estádio (Foto: Eduardo Deconto )

Volta e meia, os gramados da América Latina são percorridos por cães que driblam os seguranças e irrompem entre os jogadores para dar trabalho ao estafe dos estádios até retirá-los. Nesta terça-feira, porém, uma cadela teve a festa vetada por um funcionário do Monagas. O “cusco” circulava à beira do túnel de acesso minutos antes da partida, mas acabou conduzida para fora do estádio.

Torcedor… Desinibido

Em meio aos locais, um grupo de brasileiros com camisas de Santos, Cruzeiro e Corinthians torcida pelo Grêmio e, em especial, por Renato Portaluppi. A proximidade do alambrado com a beira do campo as fez entrar em euforia e gritar insistentemente pela atenção do ídolo, que até respondeu com um aceno. Um torcedor venezuelano ainda mais entusiasmado se levantou e, de costas, baixou as calças…

Chuvas de bolívares

Além da recepção às equipes, os venezuelanois também arremessaram suas notas de dinheiro ao alto na comemoração do gol contra de Kannemann. Muitos dos pequenos torcedores que estavam aglomerados no alambrado exibiam maços de notas de 100 bolívares, que outrora fora a mais valorizada do país. Hoje, as menores notas em circulação usual são de mil bolívares. A maior, de 100 mil.

Dinheiro lançado no gramado do Monagas (Foto: Eduardo Deconto)

Sem tanto brilho

Dentro de campo, a equipe de Renato Portaluppi foi superior – ainda que sem o brilho de exibições anteriores – como já se esperava do atual campeão da América contra um rival modesto. E precisou sofrer até o último instante para sair com a vitória. No primeiro tempo, Cícero cobrou falta na trave, e Alisson e Thonny Anderson desperdiçaram chances dentro da área.

Ramiro marca contra o Monagas  (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)

Ramiro marca contra o Monagas (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)

Na segunda etapa, Ramiro anotou o gol que se desenhava salvador em chute que venceu o goleiro Baroja e entrou mansamente no cantinho. Marcelo Grohe já havia executado dois de seus milagres, mas nada pôde fazer com um tento contra, anotado por Kannemann.

Infiltrado

Exatamente atrás do banco de reservas do Grêmio, os suplentes e o técnico Renato Portaluppi tiveram de conviver com a “secação” já habitual de Porto Alegre. Ali, um torcedor com a camisa do Inter vibrou bastante com o gol contra anotado por Kannemann… Mas sua festa durou pouco, apenas até o gol de Jailson.

Tensão e extravaso

Cícero sofre pênalti contra o Monagas (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)

Cícero sofre pênalti contra o Monagas (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)

Renato Portaluppi e os reservas mal haviam assimilado o gol contra de Kannemann quando viram Cícero ser derrubado dentro da área, num pênalti assinalado pelo árbitro. A tensão logo tomou conta dos gremistas à beira do campo, pela indefinição da questão física do meia, que acabou obrigado a deixar o gramado para atendimento médico. Coube a Jailson converter o pênalti e garantir a vitória. E a vaga nas oitavas.

Classificado, o Grêmio lidera o grupo 1 da Libertadores com 11 pontos somados. O Tricolor volta a Porto Alegre ainda na madrugada desta quarta-feira, em voo fretado. A próxima partida está marcada para o domingo, às 16h, no Durival Britto, contra o Paraná, pela 6ª rodada do Brasileirão.



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