
O terno cinza leva a gravata meio solta, para deixar Marcelo Gallardo confortável. Ao passar pelo saguão do Aeroporto Jorge Newbery, antes de perder a invencibilidade no comando do River Plate, é escoltado por seguranças até a escada rolante. Os torcedores olham para o treinador e ídolo com brilho no olho e confiança. Como o gremista olha para Renato Portaluppi com suas camisas sociais e calça jeans. Os dois se cruzam nesta terça-feira, a partir das 21h45, no Monumental de Nuñez, pela semifinal da Libertadores, e podem se cumprimentar como verdadeiros integrantes de um clube privado.
Os estilos são diferentes. O cabelo milimetricamente desarrumado, franja caída na testa, dá um tom mais fashion ao argentino, enquanto o brasileiro se preocupa com a aparência, mas parece mais despojado acostumado a viver na praia. Renato e Gallardo são dois dos campeões da Libertadores como jogadores e treinadores.
A seletividade ainda vai além: atualmente, Renato é considerado o terceiro melhor técnico do mundo, na frente do adversário argentino, o quarto, em ranking atualizado semanalmente pelo Football World Ranking – a lista tem, na liderança, Ernesto Valverde, seguido por Diego Simeone. A pontuação do brasileiro é 13.474, enquanto a do adversário nesta terça é de 13.121.
– A maior prova são os números. Tanto dele no River quanto comigo aqui no Grêmio. Depende do trabalho, de resultados. É importante sempre ter resultado. O clube efetivou um ídolo lá e um aqui, mas você só sobrevive com resultados. Ele teve destaque, era muito bom. E tem conquistado muito também como treinador, assim como eu. É importante ter dois ídolos que seguem com sucesso como treinadores – disse Renato após o empate com o América-MG.
Renato e Gallardo
Renato | Gallardo | |
Tempo de clube | 2 anos e 1 mês | 4 anos e 3 meses |
Títulos conquistados | Copa do Brasil (2016), Libertadores (2017), Gauchão e Recopa (2018) | Copa Sul-Americana (2014), Libertadores (2015), Recopa (2015 e 2016), Copa Argentina (2015/16 e 2016/17) e Supercopa Argentina (2017) |
Posição no ranking | 3º, 13.474 pontos | 4º, 13.121 pontos |
Campeão da Libertadores… | 1983 (como jogador) e 2017 (como treinador) | 1996 (como jogador) e 2015 (como treinador) |
Não só nestas semelhanças, mas Renato e Gallardo se aproximam também em outros aspectos. Ambos vêm de anos vitoriosos em um trabalho a longo prazo. E levam desespero aos torcedores de suas equipes quando se pensa no futuro sem eles. Na última semana, o comandante do River em uma entrevista afirmou que “nada dura para sempre”. A frase veio em meio a rumores de uma ida para a seleção argentina e caiu como uma bomba entre os “millionários”.
Teve em uma entrevista que tranquilizar a todos e afirmar que não pretende sair do clube agora. São quatro anos no comando, desde julho de 2014 ao suceder outro emblema do River, Ramón Díaz – para muitos, conseguiu superá-lo. E a possibilidade de perdê-lo deixou os torcedores ouriçados. Algo semelhante ao que acontece quando se cogita a possibilidade de Renato não seguir em 2019 – embora o próprio já tenha indicado a permanência.
– Talvez seja o melhor técnico da história do River. Mudou a filosofia, transformou o River em uma equipe copeira. (O clube) Não tem a quantidade de Libertadores que deveria pela sua história. E em quatro anos somamos três semifinais – comentou Gustavo Abdulajad minutos depois de ver Gallardo passar pelo saguão no aeroporto.
Cada um do seu jeito, ambos também cativaram o seus elencos a seguir suas ideias. Muito também por conta dos jogadores, são dois elencos homogêneos. A união do grupo do Grêmio já foi falada diversas vezes pelos próprios atletas. O setorista do Olé, Ariel Cristófalo, ressalta a mesma característica entre os argentinos.
– O grande mérito do Gallardo é que acreditam na sua ideia, estão mentalizados com a ideia do técnico, e há uma grande união do plantel, dos que jogam e dos que ficam no banco também – comentou.
Ate a estratégia utilizada foi semelhante. O River poupou titulares na sexta, contra o Colón, quando perdeu a invencibilidade de 32 partidas, enquanto o Grêmio usou reservas no empate com o América-MG, pelo Brasileirão. A diferença, no entanto, é no resultado para o grupo. Enquanto Gallardo terá todo mundo à disposição, Renato não terá o artilheiro Everton, 17 gols no ano. E ainda pode perder Luan, que viajou com a delegação para Buenos Aires, mas será constantemente avaliado.
Renato tem espaço no Museu da Arena…
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Renato vê espaço dedicado a ele em museu — Foto: Lucas Uebel/Grêmio/Divulgação
E Gallardo tem área em Museu do Monumental
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Terno de Marcelo Gallardo no museu do River Plate — Foto: Eduardo Moura
Passado em campo
Ambos já enfrentaram os clubes rivais respectivamente quando jogadores. Renato esteve em dois duelos com o River Plate, em 1991, pela Supercopa da Libertadores. No empate em 2 a 2, dia 1 de outubro daquele ano, no Monumental – resultado, por sinal, considerado bom se fosse conseguido atualmente – e no 1 a 1 no Olímpico. Neste jogo, fez o gol do Tricolor no tempo normal, mas perdeu sua cobrança de pênalti, assim como Bizu. Os argentinos acabaram classificados com vitória de 4 a 3 nas penalidades.
– Nessas horas, muita gente não entende. Peço para o torcedor desculpas e que não pare de incentivar a equipe do Grêmio. Temos o gauchao pela frente. O mundo não vai acabar. Estamos tristes. Temos que ver a realidade. A realidade do amanhã é o Gauchão – disse Renato à época.
Já Gallardo atuou três vezes contra o Grêmio na década de 90. Em 95, também pela Supercopa, o time gaúcho venceu por 2 a 1 em Porto Alegre, mas perdeu por 3 a 2 no Monumental. Em outra decisão por pênaltis, melhor para os argentinos, com um acerto do atual técnico do River. Três anos depois, pela Mercosul, os hermanos venceram por 3 a 1 com um gol de Gallardo.
Os dois treinadores fazem o primeiro dos dois duelos “pesados” nesta terça-feira, às 21h45, no Monumental de Nuñez. O confronto da volta da semifinal da Libertadores está marcado para o dia 30 de outubro, também às 21h45, na Arena.